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  • em 15.11.2010
  • às 05:15 PM
  • por Giselle

Somos belas Jessicas Rabbit! 0

Jessica Rabbit é talvez a personagem de cinema mais sedutora de todos os tempos. Nada mal para um desenho animado.
Foi esculpida com uma cinturinha de pilão belíssima, e com seios do tamanho perfeito para segurar o longo tomara-que caia de paetês vermelhos, com sedutora fenda nas coxas e que despertava suspiros dos ocós que assistiram ao filme “Uma Cilada para Roger Rabbit”.

Jéssica foi inspirada em atrizes famosas, e levava em seu conjunto, os cabelos de Rita Hayworth, seios de Ava Gardner e corpo e trejeitos de Veronica Lake, com a voz sensual de Kathleen Turner. Todos estes atributos fizeram de Jessica uma das maiores e mais perfeitas monalindas que conheço.
Ai você deve estar se perguntando o que é que a loka da Giselle está escrevendo e onde ela quer chegar?
Lido o inicio, vamos a primeira das semelhanças entre nós transsexuais e Jessica Rabbit.
Igual a ruiva do cinema, esculpimos nossos corpos por anos, e muitas vezes sempre inspiradas em alguma monalinda. A diferença fica no fato de que ao invés de lápis e borracha, usamos hormônios, bisturis e muito sacrifício, as vezes sem tanto glamour.
Aposto que quando começamos a pensar em sermos Jessicas, esperávamos por um lápis milagroso que nos torna-se lindas a cada risquinho, e também posso apostar que muitas ficam esperando isso por uma vida. Estas, acabam vivendo existências frustradas, colocadas em uma prisão que encarcera a alma feminina em um corpo inadequado.

Para falar sobre a segunda semelhança será necessário citar que no filme, Jessica Rabbit afirmava – “Eu não sou má, fui apenas desenhada assim”.
Vamos então transpor está frase da ficção para nossa realidade cotidiana.
Convivemos todos os dias com os olhares preconceituosos e críticos de pessoas que muitas vezes se escondem em seu falso moralismo para julgar os outros e seus sentimentos. Na verdade são infelizes que omitem seus próprios desejos, mas que infelizmente formam opiniões.
Somos vistas como máquinas de sexo desalmadas e que só servem para isso.
Pessoas acéfalas que representam ameaça velada e que parecem levarem uma incurável doença dentro do corpo.
Pessoas que não podem exercer outras profissões que não sejam a prostituição, cabelereiras, maquiadoras, moda, ou artistas que precisam ralar nos picadeiros da vida as vezes noites inteiras para ganhar seu pão.
Somos portanto estereotipadas e relegadas a uma existência que quase sai fora das normas e padrões humanos, e isso até por outros gays. Aliás eita classe feia está nossa né. Só sabem fazer micaretas coloridas uma vez por ano e chamam de parada do orgulho blá, blá, blá… mas fica para outro post.
Mas será que não seria diferente se as oportunidades fossem iguais? Se não tratassem desejos como doença?
Então é correto dizer que não somos pessoas ruins, apenas fomos desenhadas assim.

Na terceira semelhança, devemos lembrar que Jessica tinha aparência de femme fatale, e portanto não conseguia convencer ninguém de que o seu amor por Roger Rabbit era verdadeiro, sendo as suas ações e afirmações permanentemente mal interpretadas.
A origem da dificuldade sentida por Jessica parece residir no fato dela e Roger serem de espécies diferentes, apesar de ambos se integrarem na categoria dos desenhos animados. O fato de a primeira ser uma mulher deslumbrante e o segundo um coelho atrapalhado não facilita a tarefa de Jessica, pois impossibilita transformar o seu amor em algo verdadeiro e que tenha credibilidade.
Oras bolas, será então que em matéria de amor, nós lidamos com coelhinhos, por isso em sua grande maioria encontramos trans infelizes e mal amadas? Será mesmo que somos de Vênus e eles de Marte como na letra da música do Tihuana?
Eu particularmente sou muito feliz no amor, mas não é isso que sinto de amigas minhas, e para piorar sei de suas qualidades e de quanto são merecedoras da felicidade ao lado de alguém. Aliás abafa, porque todo ser humano é merecedor disso!
Mas como Jessica e o coelho, a sociedade não crê nestas relações. Não aprova com sua moralidade totalitária e absurda a felicidade e ainda por cima menospreza o sentimento, afinal como eu disse ai atrás em parágrafo anterior, somos vistas como máquinas anormais.
Tive amiga que se jogou de prédio e morreu, em um suicídio absurdo, trágico e triste, porque apesar de linda, sabia que sua existência seria fadada a ter ao seu lado homens casados ou solteiros, que fugiam das suas bem constituídas famílias, para terem relações com a então anômala. Juravam amor eterno, mas nunca mais voltavam. Aliás nem sua morte respeitaram, falando muita besteira a respeito, aff… nem lembrar.
Aqueles mesmos homens que em churrascos com amigos, ao lado dos seus bem criados filhos e lindas esposas, batem nas mesas e gritam que homossexualismo é doença e homossexuais têm que morrer.
Lembrem-se sempre que estes caras julgadores, são os que prometem mundos e fundos a nós, se mostram amigos e futuros parceiros, se dizem liberais e assumidos, mas por muitas vezes são covardes e até mais meninas do que nós nas camas da vida.
Desejam mas não podem assumir e ai condenam.

O que os assusta e nos torna as vilãs?
Nossa aparência de Femme Fatale, que suas namoradas e esposas deixaram de ter a tempos? A maneira feminina que nos posturamos ou o que temos a mais?
Afinal somos de espécies diferentes, mas da mesma categoria… a dos seres humanos, filhos do mesmo pai.
Léo Aquila, fala muito bem quando diz: “Todo mundo me adora, mas ninguém me quer como nora”.
Então fica aqui a pergunta. Porque não acreditaram na Jessica, afinal ela sempre falou a verdade. O tempo todo ela podia amar um coelho, mesmo eles aparentemente sendo tão diferentes.
Beijundas amores.

este post é uma homenagem a Camila de Castro que faleceu em 27 de julho de 2005. Para quem não lembra, participou do quadro “Camila quer casar”, do programa SuperPop, da Rede TV.

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